
O Coletivo Direito Popular vem a público manifestar solidariedade ao artista MC Poze do Rodo, diante de sua prisão nesta quarta-feira (29), no Rio de Janeiro, e reiterar seu compromisso com a luta contra o racismo estrutural e o uso seletivo e desproporcional do poder punitivo do Estado.
Poze é uma voz da cultura preta que sempre foi criminalizada no Brasil. Poze é um símbolo de resistência e um dos raros casos em que a juventude preta e periférica consegue furar a bolha da invisibilidade e alcançar projeção nacional por meio da arte. Não por acaso, sua liberdade incomoda.
As acusações absurdas que hoje recaem sobre o artista — relacionadas a supostos vínculos com o tráfico e porte ilegal de arma —, bem como a forma ilegal em que se deu sua prisão, com exposição de sua imagem e uso de algemas de forma desnecessárias, configuram um claro caso de criminalização racial, onde o os negros e proféticos além de perseguidos são vítimas expostos em verdadeiras suplício público.
O poder punitivo que se manifesta por meio das instituições do Estado revela uma verdade cruel: a criminalização permanente dos corpos negros, sobretudo quando ascendentes, livres e dissidentes da narrativa imposta às periferias.
Não é coincidência que artistas negros, funkeiros e moradores de favelas sejam frequentemente alvos de operações midiáticas que os expõem, julgam, condenam e, muitas vezes, matam os jovens periféricos simplesmente por existirem.
Repudiamos à ação ilegal da polícia civil e todo o espetáculo punitivo do Estado do Rio de Janeiro que opera o genocídio negro nas periferias, reprime nossa expressão cultural e mantêm uma ordem social racista que insiste em tratar o corpo negro como inimigo.
Reafirmamos: a favela tem voz, tem talento, tem arte e tem direito à liberdade.
Texto: Fabio Junior, educador popular e coordenador da Clínica de Assistência Jurídica Popular Esperança Garcia