Coletivo Direito Popular

A aula que nos atravessou: a Oficina de Leitura como um espaço de reflexão crítica

Na última aula da disciplina Oficina de Leitura, em 24 de maio de 2025, vivemos um momento que foi além do conteúdo exigido pelas bancas. O que tivemos foi um encontro com a escuta, com a história e com a urgência do agora. Lemos e debatemos o texto “Feminismo Negro”, de Halina Leal, e a potência desse conteúdo nos atravessou — como educador, foi impossível sair da sala sem perceber que ali algo se transformou.

Foto: Victor Borba

A Urgência do Feminismo Negro

O Feminismo Negro não é só um recorte a mais. É um movimento necessário, que denuncia o apagamento sistemático das mulheres negras tanto nos espaços feministas quanto nos movimentos negros. O texto mostrou como as feministas brancas historicamente ignoraram a questão racial, e como os homens negros, em muitos casos, não deram espaço para a luta contra o sexismo dentro do movimento racial.

Nomes como Sojourner Truth, que em 1851 já questionava “Não sou uma mulher?”, ecoaram em sala como um chamado à reflexão: por que até hoje insistimos em não reconhecer a humanidade plena das mulheres negras? Por que seguimos reproduzindo um discurso onde elas não cabem?

Interseccionalidade e o “Não Lugar”

Também discutimos o conceito de interseccionalidade, da jurista Kimberlé Crenshaw, que nos ajuda a entender como a raça e o gênero se cruzam de maneira indissociável. A mulher negra não é apenas mulher, nem apenas negra — ela vive ambas as opressões ao mesmo tempo, de forma particular. Como nos lembra Grada Kilomba, essas mulheres ocupam um “não lugar”, excluídas tanto dos discursos sobre o que é ser mulher quanto dos que falam sobre o que é ser negro.

Foto: Victor Borba

O Lugar de Fala e a Construção de Cidadãos Críticos

Falamos ainda sobre o lugar de fala, com base em Djamila Ribeiro, que nos convida a refletir: quem tem a permissão para ser ouvido? De onde falam os saberes que consideramos legítimos? Nossos alunos se mostraram sensíveis a essas provocações, participativos, atentos — e, acima de tudo, respeitosos. Foi uma aula que gerou troca, pertencimento e consciência.

Para mim, como professor, ficou evidente: não estamos só preparando alunos para vestibulares. Estamos formando cidadãos críticos, que saibam pensar com empatia, com profundidade, com coragem.

Depoimento de uma Aluna do Pré-Vestibular

“Eu gostei muito da aula, acho que trouxe um tema muito bom, ainda mais pra gente que vai fazer redação, acho um tema ótimo pra ter repertório, porque é um tema muito atual. Porque a reivindicação do direito das mulheres negras é muito recente. E eu gostei muito da aula porque ela foi muito inclusiva, todo mundo leu um pouco, todo mundo leu do seu jeito inclusive e eu achei muito legal. Em todo momento a aula foi bem respeitosa, eles respeitaram o pessoal que leu, mesmo que tivesse dificuldade. E no geral acho que a aula foi ótima, adorei o texto!”

Foto: Victor Borba

Texto: Ryan Maragoni, ex aluno e educador popular do Pré – Vestibular Social Dr. Luiz Gama.

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