Na última aula da disciplina Oficina de Leitura, em 24 de maio de 2025, vivemos um momento que foi além do conteúdo exigido pelas bancas. O que tivemos foi um encontro com a escuta, com a história e com a urgência do agora. Lemos e debatemos o texto “Feminismo Negro”, de Halina Leal, e a potência desse conteúdo nos atravessou — como educador, foi impossível sair da sala sem perceber que ali algo se transformou.

A Urgência do Feminismo Negro
O Feminismo Negro não é só um recorte a mais. É um movimento necessário, que denuncia o apagamento sistemático das mulheres negras tanto nos espaços feministas quanto nos movimentos negros. O texto mostrou como as feministas brancas historicamente ignoraram a questão racial, e como os homens negros, em muitos casos, não deram espaço para a luta contra o sexismo dentro do movimento racial.
Nomes como Sojourner Truth, que em 1851 já questionava “Não sou uma mulher?”, ecoaram em sala como um chamado à reflexão: por que até hoje insistimos em não reconhecer a humanidade plena das mulheres negras? Por que seguimos reproduzindo um discurso onde elas não cabem?
Interseccionalidade e o “Não Lugar”
Também discutimos o conceito de interseccionalidade, da jurista Kimberlé Crenshaw, que nos ajuda a entender como a raça e o gênero se cruzam de maneira indissociável. A mulher negra não é apenas mulher, nem apenas negra — ela vive ambas as opressões ao mesmo tempo, de forma particular. Como nos lembra Grada Kilomba, essas mulheres ocupam um “não lugar”, excluídas tanto dos discursos sobre o que é ser mulher quanto dos que falam sobre o que é ser negro.

O Lugar de Fala e a Construção de Cidadãos Críticos
Falamos ainda sobre o lugar de fala, com base em Djamila Ribeiro, que nos convida a refletir: quem tem a permissão para ser ouvido? De onde falam os saberes que consideramos legítimos? Nossos alunos se mostraram sensíveis a essas provocações, participativos, atentos — e, acima de tudo, respeitosos. Foi uma aula que gerou troca, pertencimento e consciência.
Para mim, como professor, ficou evidente: não estamos só preparando alunos para vestibulares. Estamos formando cidadãos críticos, que saibam pensar com empatia, com profundidade, com coragem.
Depoimento de uma Aluna do Pré-Vestibular
“Eu gostei muito da aula, acho que trouxe um tema muito bom, ainda mais pra gente que vai fazer redação, acho um tema ótimo pra ter repertório, porque é um tema muito atual. Porque a reivindicação do direito das mulheres negras é muito recente. E eu gostei muito da aula porque ela foi muito inclusiva, todo mundo leu um pouco, todo mundo leu do seu jeito inclusive e eu achei muito legal. Em todo momento a aula foi bem respeitosa, eles respeitaram o pessoal que leu, mesmo que tivesse dificuldade. E no geral acho que a aula foi ótima, adorei o texto!”

Texto: Ryan Maragoni, ex aluno e educador popular do Pré – Vestibular Social Dr. Luiz Gama.